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23.6.10

A previsão de Berthelot


"Num discurso que causou alguma celeuma, Marcelin Berthelot, o grande químico do tempo (1894), que deve a sua popularidade à síntese do álcool e que dirigia um laboratório que trabalhava para a indústria, traçou o quadro para o ano 2000:

Nesse tempo já não haverá no mundo agricultura, nem pastores, nem trabalhadores agrícolas: o problema da existência pela cultura terá sido suprimido pela química. Já não haverá minas de carvão de coque nem indústrias subterrâneas nem, por consequência, greves de mineiros. O problema dos combustíveis terá sido resolvido pelo concurso da química e da física.
Já não haverá alfândegas, nem protecionismo, nem guerras, nem fronteiras banhadas de sangue. A navegação aérea, com seus motores criados pelas energias químicas, terá relegado essas antiquadas instituições para o passado. Estaremos então bem próximo de realizarmos os sonhos do socialismo... desde que se consiga descobrir uma química espiritual que mude a natureza moral do homem tão profundamente quanto a nossa química transforma a natureza material!


Anuncia que a química produzirá uma alimentação em barras cuja abundância já não dependerá da chuva ou da seca, das boas ou das más colheitas. E acrescenta:

O problema fundamental consiste em descobrir fontes de energia inesgotáveis e que se renovem quase sem trabalho...

Embora não previsse que o óleo de Séneca é que virá a constituir, sob o nome de petróleo, essa fonte do século XX, anuncia, com muita precisão, a utilização da energia solar no século XXI."

Excerto do livro de Françoise Giroud "Um Génio Madame Curie", Editorial Inquérito, Lisboa, 1981, onde eu destaco: "Estaremos então bem próximo de realizarmos os sonhos do socialismo... desde que se consiga descobrir uma química espiritual que mude a natureza moral do homem tão profundamente quanto a nossa química transforma a natureza material!" Ora... e essa química espiritual? Estaremos no seu caminho? Há uma busca mais assumida do caminho espiritual nos dias de hoje. Teremos paz para o caminho?

25.5.10

Toque de Hortelã


A aposta do Homem na máquina tem deixado muitos valores de lado, entre eles a inquestionável força e riqueza da Natureza. Aí tem início a agricultura, elemento insubstituível para a sua sobrevivência. Pouco a pouco foi perdendo a sua hegemonia e hoje é apenas algo sujeito aos interesses de quem maneja e despacha a partir seus escritórios nos altos andares envidraçados. É o mercado internacional e as multinacionais que elegem, dirigem e destroçam o que se pode ou não cultivar; e o fazem em superfícies imensas, cobertas de plástico onde, como nos laboratórios, os produtos evoluem mediante manipulação química e energia elétrica e com escassas possibilidades de serem produtos plenamente autênticos, que tem cor, mas que carecem de verdadeiro perfume e sabor. O tradicional se perdeu e em seu lugar afloram construções imobiliárias e baldios estéreis e empobrecidos. Os produtos comercializados como orgânicos ou biológicos, como se fossem uma novidade, parecem existir também, mas em lugares pequenos, mais seletos e muito mais caros: as lojas gourmet ou delicatessen.
Os grandes Estados dominadores são os que inverteram esse sistema de agricultura tradicional para o grande mercado; o agricultor é uma peça excluída da cadeia de produção.
O que está se passando?
Não é nenhuma novidade que o Homem sobredimensionou o valor do progresso técnico e tecnológico e que se divorciou da Natureza, da História e da Cultura. Se distanciou da magia dos produtos da terra.
Esse Homem também era você, que se esqueceu de plantar e de colher.
Você, na sua janela, pode se ligar à terra! Mesmo sem chão, você pode cultivar suas ervas aromáticas, plantas que têm porte pequeno para vasos e até citrinos. Cultive!

23.1.07

ESPÍRITO DE PAPEL DE EMBRULHO

Pego, me enche os olhos. Rasgo vigorosamente e jogo no chão. Mil pedaços no chão. Vassoura varre e a pá lança ao lixo. Muito lixo. Lixo indiferenciado. Cheio, abarrotado, vomitando caixas, plásticos e bolinhas eternas de isopor, laços sofisticadamente elaborados. Brilhos, cores, papel cartão, alumínio, purpurina e ilusões. Alegrias momentâneas. Orgasmos consumistas. Consumo desenfreado, alienatório, automático. Automatismo da propaganda de 30 segundos. Música, emoção e promessas. Parfum D'Ete , perfume de E.T.? Nem se pensa (que pena), uma oportunidade para rir. Rir de quê? Do paradoxo do menino na manjedoura e da mesa aburguesada de manjares. Da mensagem coca-colada de natal, que é natal para todos..vertigem. Fuga da mesmice, chatisse, vulgarisse dos dias não-natais. Que coisa mais século vinte! Velha fórmula já não funciona no mundo que se transforma em novos códigos, onde diminui a importância de terceiros e aumenta a responsabilidade individual - globalização dos indivíduos - que dá mais trabalho. Precisamos estar sempre estudando, nos informando, nos questionando, fazendo a mudança, nos associando para resolver problemas. Mas, não: há recusa, fuga. Queremos continuar mamando e sendo apenas uma película, uma casca. O antiquado descartável. Queremos continuar sendo o papel colorido, estampado, lustroso, cheio de desenhos de papais-noéis inertes, mecanicamente repetidos em série. Ho-Ho-Ho, repete incansavelmente. Só para ostentar e depois jogar fora. Ostentação..Oh TENTAÇÃO!